sábado, 2 de abril de 2011

Conciso texto sobre vida animal e Darwin. E elevadores.

A probabilidade de encontrarmos, em pleno século XXI, um ser humano que esteja habituado a viver numa cidade, e que não faça a mais pálida ideia de como usar um elevador, é escassa.

Mas pode acontecer.

Um destes dias, após colocar o meu carro na garagem, chamo o elevador. O elevador do meu prédio, presumo que tal como muitos espalhados pelo mundo fora, termina o seu curso na garagem. Portanto, à partida só será utilizado nesse piso por pessoas que tenham acabado de estacionar as suas viaturas (o meu caso) ou por pessoas que queiram ir buscar o veículo à garagem.

Foi, por isto, com alguma surpresa que, quando a porta do elevador se abriu, vi um casal, pais de um vizinho meu, a olhar para mim com ar surpeendido.

"Ah, e tal, nós queríamos ir para o 2º andar..."

Aposto que queriam - pensei eu dizer. Mas pelo vosso olhar vivaço, e pelo ridículo da situação, deduzo que seja uma sorte o senhor não ter o soutien da senhora calçado no pé esquerdo, e a senhora ter o baton nos lábios e não nas unhas. Vá lá vá lá. Sorte.

Mas em vez da ironia, optei pelo socialmente correcto: "Ah, devem ter-se esquecido de carregar no botão."

Entrei no elevador, e carreguei no 0, para passar pela caixa do correio.

A porta abre-se, eu saio, vejo o correio, e quando reparo, vejo a esposa do senhor já fora do elevador, a olhar para o marido.. O marido, esse, continuava dentro do elevador, a olhar concentradíssimo para o painel dos botões.

Concentradíssimo. Um bocadinho mais de concentração provocar-lhe-ia uma trombose, seguramente. Estava à espera de qualquer coisa, não sabia eu ainda do quê. Mas eis que a vida me dá mais um surpresa linda.

Quando a porta do elevador começa a fechar-se é que o senhor, ágil como um puma, decide sair do elevador.

Ágil como um puma. Mas com um ombro de panda. Lentinho, que o bambu não é conhecido pelas suas capacidades energéticas.

E pumba, em cheio com o ombro na porta do elevador.

Mais uma vez, lembrei-me de sacar do cartão amarelo e do apito, e admoestar o elevador. Mais uma e vais para a rua, gritava-lhe.

Mas  uma vez mais optei pelo socialmente correcto, fiz-me despercebido, e disse até amanhã ao inteligente casal.

Dias depois, chego novamente a casa, estaciono novamente o meu carrito (a minha vida é um tédio, sempre a mesma coisa).

Chamo o elevador.

E quando a porta se abre.... novamente o raio do homem.

Isto destrói completamente a teoria de Darwin. Se a evolução das espécies se fizesse sempre a partir do indivíduo mais apto e inteligente, este senhor teria morrido nos primórdios da nossa existência, ainda na savana.

Darwin estava errado. É o que vos digo. Darwin estava errado. Ou então a teoria da evolução das espécies só é válida com tentilhões.

Sem comentários: