sábado, 30 de abril de 2011

Breve conversa sobre bilhetes, milhões de euros, e viagens ao Paço Cidral.

Hoje venho dizer-vos para nunca tomarem nada como sendo certo.
Nada. Nem as viagens ao espaço. Pelo menos, as de ida e volta. Ok?

Enquanto almoçava, iniciei um tema de conversa que acabaria por ser revelar potencialmente fatal.

Para mim, pelo menos.

A meio de uma mastigadela de uma bela costeleta de vitela, lembrei-me de lançar o tema "viagens à orbita terrestre para ver o planeta azul de uma perspectiva simplesmente fucking amazing".

É claro que não disse "simplesmente". Afinal de contas, um dos interlocutores era o meu rico progenitor, e convenhamos que advérbios de modo não são com ele.

Como sou um tipo sensível, disse o mais distraidamente possível:"Pá, se eu tivesse guito suficiente, pá, apanhava um boleia num foguetão para ver a Terra de longe, e coiso".

"Mas isso custa milhões de euros" - refere o meu progenitor.

Toma que é para aprenderes, pensei para comigo. Ando para aqui a falar simples e ele mete-me no lugar, insinuando que a actual conjuntura sócio-económico-política não permite tais veleidades, sendo altamente improvável conseguir acumular o pecúlio que permita o concretizar desse sonho.

E isto tudo enquanto amarfanhava uma costeleta com dois quilos e duzentos, com um ar troglodita completamente mal fingido. Sem sequer olhar para mim. A mim não me engana ele.

Estoicamente, encaixei a ofensiva do meu rico progenitor e balbuciei, ainda zonzo: "Pois sim, mas a visão do nosso planeta há-de ser tão bela e transcendente que poderá levar o comum dos mortais à loucura, de forma que preferia uma semana em redor da Terra a comprar um Jaguar".

Vá, queres falar bonito, anda, responde-me agora, até te deixei com um zumbido nos ouvidos, aposto.

"Berrrp" - arrotou ele.

Mau, um arroto tanto pode significar um profundo desprezo pelo meu desprendimento para com o vil metal, como poderá significar uma concordância incipiente com a minha posição, mas não ao ponto de verbalizar um "sim, concordo". Mau.

E é quando eu estava já a suar em bica que a companheira do meu rico progenitor entra na conversa.

"Milhões de euros? Mas se calhar são muitos dias, não?"

"Por acaso deve ser no máximo uma semana" - respondi eu, a medo.

"Uma semana? Milhões de euros? Mas... ida e volta?"

Só consegui responder: "Sim, ida e volta..."

E ia desmaiando com o esforço para não me desmanchar a rir.

"Olhe faz favor, ó chefe, queria comprar, comprar não, adquirir um bilhete, um bilhete não, um ticket para ir ao Paço Cidral, mas só de ida, tá bom? Para cá apanho o bus 33. Obrigado, hã?."

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