sexta-feira, 29 de julho de 2011

Melão, orangotangos, hipermercados, e cocó.

Por vezes deprimo-me com a falta de humor das pessoas, com a falta de leveza, de vontade de rir que demonstram, dia a dia.

É como se a vida, para eles, fosse comer, dormir e trabalhar. E isso é uma estupidez monumental. E faz-me sentir burro e embrutecido. O que me deprime.

Então, quando a vida me esbofeteia com essa falta de humor, faço uma e uma só coisa. Saio e observo as pessoas. E há poucos sítios para observar pessoas hilariantes como as grandes superfícies comerciais, digo-vos.

Esqueçam as comédias do Jim Carrey ou do Ashton Kutcher. Esqueçam o canal parlamento. Isso é para meninos rirem. E vocês são homens de barba rija, senão não estavam aqui.

Estava eu numa grande superfície, na secção da fruta, tranquilinho da vida, quando vejo 3 homens a pesar um melão. Desculpem, a tentar pesar um melão. Ficaram os três a olhar para a balança, daquelas em que temos que selecionar o fruto e imprimir a etiqueta, utilizando para o efeito o monitor, sensível ao toque.

Só com essa cena, daqueles orangotangos a olharem para a balança, ia trespassando um lábio com os dentes, com o esforço para não rir.

"Como é que se paga, paga, como é que se paga, é que se paga, como é que se paga, no sei como é que se faz para pagar, PAGAR, como é que se  PAGA, ai como é, ai ai como é que se paga" - diziam uns para os outros, e para si mesmos.

Cerca de 30 segundos depois, isto depois de uma algaraviada que não consegui descortinar, o macho alfa dirige-se a um funcionário da charcutaria e debita um chorrilho de palavras, entre as quais melão, balança, coçar, e cocó.

O funcionário ter-lhe-á dito, para o despachar, que casas de banho só no exterior do hipermercado.

E eis que quando o macho alfa retorna ao bando, o chalenger (ou macho com aspirações a ser o macho alfa) tem um momento iluminado. Perdão, julga que tem um momento iluminado.

E grunhe:" Ahhhhhhhhhh, é isto, catano, é isto pois, tá aqui. É o que a gente quer, no é?"

E os outros, em uníssono, logo a saltar de excitação e a salivarem:" é é, não, é, pois é, é pois, a gente quer é pinar, quer-se dizer, pagar".

E vai daí que o orangotango que pretende ser o macho alfa carrega na tão desejada tecla, certo que o controlo do bando será, doravante, seu.

E ouve-se, em toda a secção da fruta: "Caraças, pá, apagou tudo, temos que começar outra vez, pois, apagar, apagou".

Faz sentido. Apagar apaga. Como acender acende e escrever escreve.

A culpa é da professora primária deles. Não lhes ensinou a subtil diferença que um espaço entre duas palavras faz. Esse lapso da docente, há 40 anos atrás, teve agora, uma consequência enorme. Fez perder tempo àqueles energúmenos, o que é desprezável, mas deu-me um daqueles momentos que vale realmente a pena ver.

Obrigado, Professora primária do bando de orangotangos que vi no hipermercado a comprar melão.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A friend.

Um amigo não precisa de convite. Basta aparecer e é sempre bem-vindo.
Um amigo vem de outro Continente ao nosso casamento. Sem dormir. Sem sequer mudar de roupa. Vem, simplesmente. Cheira mal, à sovaqueira, mas vem. Fica numa mesa sozinho, mas está lá. As pessoas perguntam-me:
“A comida está estragada? Tá aqui um cheiro esquisito.”
Ao que eu respondo: “Naa. O meu amigo veio de África.”
Um amigo telefona sempre na hora certa. Se não telefona, porque é meio parvo, manda um sms. Ao menos isso.
Um amigo convida-nos continuamente para jogar futebol. Sempre, nunca desiste. A equipa dele é fraquinha, eu sei, e ele sabe que sozinho finto meia dúzia de adversários. Acaba por ser por motivos egoístas que me convida, o espertalhão, mas o que posso eu fazer? O meu talento precede-me.
Um amigo exige regras, na relação que mantém connosco.
1ª regra: Nunca se fala de intimidades com a namorada. Nunca. Isso é criancice e reles. Agora, se a relação, por motivos aos quais somos alheios, termina, a coisa muda de figura. Até porque é a trocar ideias que o mundo pula e avança.
 Até o Newton dizia: “Se vi mais longe, foi porque estava de pé nos ombros de gigantes”.
Posição esquisita, nos ombros de gigantes, um bocado kinky, mas génio era ele.
2ª regra: Começar as conversas por: “Olha quem é ele, o grande artista”. Mas com aquela entoação de quem está cheio de nove horas.
3ª regra: Nunca sair da casa de outro sem o acordar, depois de uma grande bebedeira a ver o Sporting. Não vá um gajo bolsar e morrer afogado no próprio vomitado.
Vomitado. Se calhar sou o primeiro dono de uma tasca na internet a utilizar a palavra vomitado.
Sempre na vanguarda.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Flores eternas

Que flor tão linda.

É o que se costuma dizer. E dir-se-á desta forma, divago agora, porque geralmente, a beleza de uma flor é efémera.O seu apogeu dura apenas umas horas, talvez uns dias, quando muito.
Talvez por isso, por serem tão breves, sejam tão apreciadas.

Mas digo-vos que as há eternas. É verdade. Há flores belíssimas que vivem eternamente, no seu primor.

Onde? No nosso coração.

Hoje farias sessenta e seis anos. Serias tão nova, ainda. E já passaram quase treze anos, desde que te vi pela última vez.

Linda, apesar de tudo.

Viverás linda e maravilhosa para sempre, com sempre querendo dizer até que eu morra. Nem um minuto menos.

E quem sabe mais, ainda.

Quem sabe...