sábado, 12 de março de 2011

Profile of a freak

Olívia é uma mulher solitária, que tem como únicas companhias o trabalho e um pedaço de madeira já parcialmente gasto, junto à banheira, que usa para.... para.... coçar os calcanhares, amolecida a pele gretada, pela água quente.
Para uma maior envolvência do leitor, decido agora, sem quê nem porquê, mencionar que esse pedacito de madeira, outrora um mastro, assume a forma fálica. Mas ela usa-o somente para os pézitos gretados. Ok?

Penso que estamos conversados quanto a isso. Adiante.

Olívia é uma mulher amargurada, nesta fase da sua vida. O primor da sua vida já passou, e os 50 estão mesmo aí a chegar. Olívia levanta-se, e, enquanto as gotas de água pingam do seu corpo ossudo e anguloso, repara nos seus pés, mais propriamente nos dedos dos pés, terrivelmente grandes.

Agora que penso nisso, vem-me à mente aquela cena do Jurassic Park, em que o pequeno Timmy está na cozinha, e os velociraptors batem com aquelas unhacas no chão... Será que era a Olívia?

É possível.

Talvez Olívia gostasse de ter família, alguém que a amasse, que a aconchegasse à noite. Talvez um, ou mesmo dois filhos de volta dela a gritar e a pedir atenção. Talvez isso a fizesse ser mais alegre. Talvez, e isto já será abusar, a fizesse sentir.

Não. Penso que não. Olívia não deve querer nada disto. Até porque para ter um marido, ou filhos, temos que ser altruístas, abnegados, temos que alterar radicalmente a hierarquia das nossas prioridades.

Já não é o "eu" que importa mais, mas sim "eles". Os filhos, o marido.

E Olívia é incapaz de alterar essa hierarquia. Aliás, nela não há sequer hierarquia, há um ponto único. Ela.

Daí que Olívia passe os seus dias a sugar o esforço e a inteligência dos que a rodeiam, aproveitando tudo o que de bom daí advém, e sacudindo a responsabilidade para os outros, quando algo corre mal.

Daí que Olívia não mereça o respeito ou a consideração de ninguém, e, talvez, a solidão dela não se deva a uma opção, mas seja antes uma consequência...


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